terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

“Amizade é a minha religião”

Paiva Netto
Quatorze de fevereiro — Dia da Amizade. Esse sentimento que verdadeiramente se consolida nas lutas e nos dissabores da existência humana se encontra bem retratado em trecho de página compilada por Malba Tahan, pseudônimo do famoso escritor e matemático brasileiro Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), constante de “Lendas do Céu e da Terra”, com o título “Boa Vontade”. Vamos ao singelo conto.
“Tendo um homem adquirido uma fazenda, encontrou-se, dias depois, com um de seus vizinhos.
“— O senhor comprou esta propriedade? — perguntou-lhe o vizinho em tom quase agressivo.
“— Comprei-a, sim, meu amigo!
“— Pois sinto dizer-lhe que vai ter sérios aborrecimentos. Com as terras, o senhor comprou, também, uma questão nos tribunais.
“— Como assim? Não compreendo!
“— Vou explicar. Existe uma cerca, construída pelo proprietário anterior, fora da linha divisória. Não concordo com a posição dessa cerca. Desejo defender os meus direitos e vou partir para a justiça, para a demanda.
“— Ora, meu amigo, eu lhe peço que não faça semelhante coisa — retorquiu o proprietário. — Acredito na sua palavra. Se a cerca não está no lugar devido iremos e consertaremos tudo de perfeito acordo.
“— O senhor está falando sério?
“— É claro que eu estou!
“— Pois se é assim — respondeu o reclamante, agora acalmado — a cerca ficará como está. O senhor é um homem honrado e digno. Faço mais questão de sua amizade do que de todos os alqueires de terra. 
“E os dois vizinhos tornaram-se amigos inseparáveis, e essa amizade foi de grande utilidade para ambos e para toda a região (...)”.
Isso talvez aconteça em termos parecidos, em algum lugar do mundo, mas é para tempos melhores. Então, comecemos ontem.
A Boa Vontade é semente indispensável no cultivo do Amor, da Sabedoria e da Verdade. A partir dela se pode colher, na lavoura da vida, o espírito de Paz. Em seu “Poema da Amizade”, bem definiu o poeta Alziro Zarur (1914-1979): “Meu particularíssimo Evangelho:/ Amizade é a minha religião”.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.




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